Babado
Babado, da série Querido Diário, 2023
serigrafia e papercutting sobre papel kozo japonês
138 x 282 cm
Fotografias de Ana Pigosso
A obra foi realizada a partir da técnica tradicional chinesa de corte de papel, conhecida como jianzhi, aplicada sobre papéis japoneses de extrema delicadeza — Morique (50g/m²), Okawara (55g/m²) e Tengujo (11g/m²). Sobre essas superfícies translúcidas e frágeis, foram impressas em serigrafia as palavras “Gay” e “Viado”, utilizando verniz transparente. A inscrição, quase invisível, atua como marca e como fantasma: impregna o material com estigmas que são ao mesmo tempo visíveis e velados, refletindo a maneira como a violência, muitas vezes, mora ao lado do silêncio.
O título Babado carrega em si uma polissemia que tensiona sentidos e subjetividades. Na cultura queer, “babado” é gíria para escândalo, fofoca, acontecimento intenso ou rumor quente — palavras sussurradas que inflamam ambientes. Ao mesmo tempo, o termo evoca o objeto (o babado em si) e ainda insinua a ação de “babar”, como gesto de desejo, de salivar. Essa sobreposição de sentidos compõe o campo semântico do trabalho, que lida justamente com o entrelaçamento entre amor e violência, desejo e perigo, prazer e brutalidade.